quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Elogio a Loucura...uma parte...


Pode-se amar alguém quando se odeia a si mesmo? Pode-se viver em bom entendimento com os outros quando não se está de acordo com o próprio coração? Pode-se oferecer algo de bom à sociedade quando se está aborrecido e fatigado com a própria existência? Seria preciso ser mais louco eu a Loucura para responder afirmativamente a essas perguntas. Ora, se for excluído da sociedade, o homem, londe de poder suporta os outros, não poderá suportar a si próprio; desgostoso com tudo o que tiver alguma relação consigo, logo se tornará a seus próprios olhos um objeto de ódio, de aversão, de horror. Pois a natureza, geralmente mais madrasta que mãe, deu a todos os homens, e sobretudo aos que têm alguma sabedoria, um mau pendor que os leva a desdenhar o que possuem para admirar o que não possuem, pendor funesto que acaba corroendo e destruindo inteiramente todas as vantagens, todos os prazeres, todos os encantos da vida. 



 De que servirá a beleza, o presente mais precioso que os imortais podem dar aos homens, se quem a possui não gosta de si mesmo? Quais serão as vantagens da juventude, se é infectada pelo negro veneno da melancolia? Enfim, haverá na vida alguma ação pública ou particular que possais fazer com gosto e no momento oportuno (pois o momento oportuno não é apenas o grande princípio das artes, é também o de todas as ações da vida) sem o auxílio do Amor-próprio que vedes aqui à minha direita, o que, pelo zelo que mostra em toda parte por meus interesses, merece bem toda ternura que sinto por ele?

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